sexta-feira, 30 de março de 2007
vídeo: abuso sonoro
quinta-feira, 29 de março de 2007
resenha 7'' mayombe- a história mela sangue
para quem não conheceu a banda, era um powerviolence sinistrão com um vocal feminino potente. a banda encerrou suas atividades em 2002, mas seu único disco só saiu oficialmente ano passado. essa foto ao lado é do xou "reunion" de lançamento do ep.
confere a resenha do vinilzinho lá no dfhardcore.
e, caso se interesse em adquiri-lo, corra atrás da raw records.
para baixar e curtir: nog watt!
faz tempo que não posto dicas de bandas para baixarmos, né não irmãzinhas?
então aqui vai uma banda destruidora, com certeza uma das melhores coisas que conheci recentemente. vinda direto da holanda, terra de bandas fodidas como lärm, winterwijx chaos front, e uma porrada de outras, nog watt existiu por volta de 85-86, participou de algumas coletâneas e lançou apenas um ep chamado fear, que é esse que você pode baixar lá no 7 inchpunk:
http://www.7inchpunk.com/?p=787
o nog watt contava com uma vocalista chamada joanna, que tem um vocal animal, com certeza um dos melhores vocais femininos que já ouvi, e uma baterista chamada ingrid que também tocava numa banda chamada no pigs (que não conheço) o som é um hardcore/punk thrashado com guitarrinhas marotas as vezes mostrando uma influência do hardcore americano.
o vocal de joanna é bastante "emocionante" e os backing vocals são feitos por ingrid; o nog watt conta com refrões que grudam na sua cabeça, como na primeira faixa "big warning, big mistake". pra mim é difícil definir qual minha faixa preferida porque achei esse ep simplesmente demais, mais vou falar aqui que é "going on". eu achei o vocal meio parecido com o vocal da mina do bread and water (que fica pra uma próxima postagem)
dá pra ler mais sobre o nog watt no kill from the heart
segunda-feira, 19 de março de 2007
entrevista com toda dor do mundo
(no último número impresso do zine você pode ler uma entrevista com a adriana do kaos klitoriano)
hardcore e garotas
a idéia é colocar pontos de vista diferentes sobre o grande tema do envolvimento e do recebimento das mulheres no rock; no meu texto tentei colocar minha visão particular, que tem a ver com uma experiência específica de ser garota e atuante na cena de hardcore do distrito federal. tentei fazer um texto que partisse do pessoal mesmo. esse é um tema que muito me interessa e sobre o qual eu vivo conversando com quem quiser, então se você tem coisas a dizer sobre o assunto, deixe um comentário ou então me escreva em: sororidade@gmail.com
queridas, sintam-se a vontade para comentar, discutir, discordar, debater.
ponto 1: bandas com garotas- repúdio e paternalismo
no texto, clarissa e xandrac afirmam que os comentários do público normalmente se referem ao nosso corpo e quase nunca ao nosso desempenho como instrumentista.
discordo um pouco, mas tem a ver com minha experiência pessoal e talvez com a vivência em uma das muitas cenas musicais no df. lembro que elas falam de uma cena rock e eu falo de dentro da cena de hardcore extremo do df.
toco em bandas tem quase 5 anos, e já toquei em muito xou tosco, em vários lugares diferentes e em algumas cidades diferentes também. e em todos esses xous apenas uma vez um cara teceu esse tipo de comentário durante o xou. e o que é mais intrigante: enquanto eu tocava na minha banda "mista". quando comecei a tocar, ouvia muitos comentários sobre meu desempenho. normalmente falando que eu tocava mal, reto demais, sem viradas (já me chamaram algumas vezes de coelhinho da duracell). depois eles passaram a ser "porra, até que você toca bem" (o complemento "para uma menina" era as vezes engolido), ou "você tem muito mais pegada que muito marmanjo".
costumo pensar que em brasília o peso é mais leve. brasília apesar de ser uma cidade nova e pequena, já teve uma série de bandas só com mulheres tanto no hardcore como metal (tivemos o flammea, o volkana, o valhalla, o kaos klitoriano, o bulimia) e uma série de bandas com mulheres na formação (PUS, detrito federal, besthoven, death slam e tantas outras). nós sempre estivemos presentes ativamente no cenário musical underground do df. as vezes acho que isso faz a cena do df ser mais aberta à bandas com mulheres.
no entanto, já vi uma série de xous aonde os caras gritam horrores para as mulheres no palco. mas (discordando um pouco do texto da clarrissa e da xandrac) dentre essas coisas, o desempenho da gente como instrumentista sempre está na roda. acho que isso chega a ser o motor dos insultos, porque normalmente os caras chegam no xou com o pensamento "vamos ver se essas meninas sabem tocar mesmo". a hostilidade é anterior ao xou. me lembro de ter visto há muito tempo, xous aonde os caras xingavam as meninas por implicância, porque consideravam uma banda ruim que só tocava em xous por ser uma "banda de meninas". o que me leva ao ponto que quero defender: mais grave que o preconceito contra bandas com mulheres é o paternalismo com que somos tratadas. como se fossemos "meninas" mesmo, como se fossemos crianças brincando de fazer banda. muitas vezes somos chamadas pra tocar apenas por esse "exotismo" de ser uma banda de garotas, ou porque xs organizadorxs acham bom reservar um espaço para mulheres. é uma política do politicamente correto que sai pela culatra, porque acaba que temos um espaço de tratamento paternalista e diferenciado: as bandas de mulheres não são avaliadas da mesma forma que bandas de homens, normalmente o nível exigido é bem menor.
então parece que temos dois comportamentos oscilantes, um é o repúdio a mulheres em bandas e o outro é o tratamento especial e paternalista. e no meio, entre esses dois comportamentos temos um nada. e o paternalismo de alguns alimenta o repúdio de outros, que costumam se enraivecer porque uma banda "ruim, mal tocada, ou sei lá o que" está tomando um espaço que seria dos caras (e por isso de bandas "boas, bem tocadas") apenas porque pe composta por mulheres. essas identidades entre banda de mulher e ser mal tocada e banda de homem ser bem tocada já são pressupostas por esse tipo de discurso, elas não são discutíveis. assim, um comportamento alimenta o outro e entramos num ciclo estranhíssimo.
convenhamos que ambos os comportamentos são misóginos- um disfarçado e outro escancaradamente (e as vezes violentamente) misógino. no entanto, costumamos conviver bem com o primeiro comportamento... as vezes sem nem questiona-lo.
ponto 2: porque as bandas de/com mulheres são escassas?
normalmente a resposta a essa pergunta gira em torno do espaço ou da falta de espaço que existe na cena musical para mulheres se envolverem. mas eu vejo a situação inversa: muito espaço e muito “apoio” à iniciativas de mulheres dentro do hardcore (um apoio que eu percebo como paternalista, mais ainda sim um apoio).
por isso acho que a resposta a essa pergunta é mais complicada. no hardcore (pelo menos no que eu entendo como hardcore, na cena que eu vivo e para a qual contribuo) existem poucas mulheres nos xous, então é normal que apenas algumas delas montem bandas. aliás, se formos olhar para a porcentagem de mulheres que freqüentam a cena hardcore extremo de brasília e que tem bandas ela é muito maior que a porcentagem de homens que freqüentam a mesma cena e tem bandas isso porque não há quase mulheres em xous de "hardcore extremo" e as mulheres existentes estão bem envolvidas com a cena.
mas porque existem poucas meninas nessa cena? seria uma cena refratária a mulheres? seria tão misógina assim que as mulheres nem se interessam? eu costumo achar que isso acontece por causa dos papéis de gênero que aprendemos ao crescer. aqueles que falam sobre o que é próprio para meninas e para meninos. do mesmo jeito que não é próprio para meninas sentarem de perna aberta não é próprio para elas ouvirem grind. um som extremo é difícil de engolir mesmo; ninguém começa no rock ouvindo napalm death, você tem que ouvir muita coisa antes de agüentar a porrada sonora na orelha. e são poucas as mulheres que tem esse histórico de vida. unicamente porque esse é o tipo de coisa que não se enquadra na idéia tradicional do que é "ser mulher". e desafiar essa visão não é uma coisa muito fácil ou prazerosa. toda mulher sabe que jogar as regras do jogo é recompensador,apesar de frustrante...
tudo bem, parte um da resposta> há poucas mulheres tocando porque há poucas mulheres na cena, e há poucas mulheres na cena porque ouvir som extremo não é visto como algo "próprio para mocinhas". que mais?
além disso, poucas meninas tocam instrumentos. primeiro por falta de apoio dentro de casa, depois por falta de iniciativa (que é fundada nessa falta de apoio dentro de casa; seu irmão diz "você não tem coordenação motora pra tocar bateria" e isso fica na sua cabeça, minando toda sua vontade). existem uma série de exemplos próximos de pessoas que não sabiam tocar nada entraram em contato com o hardcore e foram atrás de aprender alguma coisa.
uma vez uma garota, que já foi envolvida com a cena, me disse que a coisa que mais irritava ela era o fato de ter que provar o tempo inteiro que gostava de som, e que conhecia coisas; o que era ainda mais estranho porque os caras trocavam entre si figurinhas sobre bandas novas e velhas, som, sobre o que era clássico ou não, mas as mulheres não tinham esse espaço; os caras não davam toques ou mostravam bandas para elas (ou para ela); o hardcore na visão dessa garota, era um clubinho masculino fechado aonde ela era uma estranha que deveria ser testada. isso pode ser um indício importante para pensarmos a questão que falei acima sobre as poucas mulheres na cena estarem super envolvidas com bandas, zines e etc (mas entrar por esse raciocínio parece fechar mais portas do que eu acharia interessante)
mais uma série de possibilidades podem ser levantadas. no entanto eu ainda não consigo entender porque existem poucas meninas na cena. uma vez me disseram que o problema das mulheres permanecerem no hardcore tem a ver com o que elas pensam ou querem da cena; enquanto os caras gostam mais/se preocupam mais com o som, nós nos preocupamos com a política, e política podemos fazer em outros lugares. e daí muitas saem da cena pra procurar lugares mais propícios (coletivos feministas, grupos de amigas, movimentos sociais, etc). é outra possibilidade, que mais uma vez mostra as marcas da separação entre o que entendemos ser parte do ser-homem e do ser-mulher. parece que essas formas de ser estão no cerne da questão.
os papéis de gênero aprisionam ainda uma série de desejos, vontades e aspirações femininas. e determinam boa parte de nossas vidas, personalidades e de nossas escolhas. mas é bom saber que as formas hegemônicas de ser tem suas contrapartidas, o que acaba por abrir possibilidades. eu lembro que a primeira vez que eu vi uma banda de hardcore com mulheres (um xou do kaos klitoriano) eu soube que era o que eu queria fazer. e cada vez mais isso acontece, cada vez mais garotas se inspiram a tocar e a se meter as caras em espaços que não são considerados “femininos” e o exemplo de uma inspira a vontade e o desejo de outras.
segunda-feira, 12 de março de 2007
texto: rock de saia
o texto que posto a seguir foi retirado do zine da lbl (liga brasiliense de lésbicas), e foi escrito pela xandrac e pela clarissa (que tocava guitarra numa banda chamada poena). eu achei ele muito interessante, e ele dá muito pano pra manga, muita margem à discussão. aliás essa questão da participação feminina na cena de rock sempre me preocupou/intrigou, e sempre que posso converso com pessoas diferentes sobre o assunto (como diria um amigo meu, o feminismo é o grande monotema na minha vida hehehe).
minha idéia ao postar esse texto é dialogar com ele. então a minha metodologia será a seguinte: postarei o texto delas, na íntegra, tal como foi impresso no fanzine e depois levantarei tópicos de acordo/desacordo/reforço; a idéia é colocar alguns pontos de vista diferentes e tentar contribuir para a discussão. vamos lá? confere o texto e deixe seu comentário.
Rock de saia
Por Clarissa Carvalho e Alexandra Martins
Nunca fui muito fã de Barbie ou de “coisinhas rosas” que se mexem e sorriem pra mim. Da mesma forma que na adolescência, meu maior sonho nunca foi ser modelo ou fazer plástica para ter seios maiores. Não... na verdade, eu queria mesmo ter uma banda de rock – isso mesmo, uma banda de rock.
Percebe-se que nunca fui o que tipicamente se espera de uma menina. E mesmo em pleno século XXI, algumas pessoas se espantam ao ver mulheres em bandas de rock/metal, seja tocando ou apenas curtindo o som nos shows.
São inumeráveis os “elogios” que mulheres que estão no palco ouvem. Vai desde “linda, tira a roupa, casa comigo, princesa” a “desce daí e vem me dar o seu o cú, sua vagabunda!”. Tudo que você imaginar que se refira ao seu corpo e quase nunca ao seu desempenho como musicista.
Foda-se o que você está tocando: se subiu no palco “deu” o direito de ser objeto masculino e vai ter que pagar por isso. É um tipo de punição: muitas são palavras de ódio, pelo simples fato de você ser mulher. Sim, se mulher está no palco, eles se sentem no direito de subir para beijar.
Toda mulher com atitude ou com gosto por músicas mais pesadas, são passíveis de desconfiança e por isso têm que passar por uma “comprovação”. Como se tivéssemos que provar pra todos/as que sim, curtimos rock/metal; sim, nos divertimos no show e sim, conheço as músicas da banda. Nós mulheres, estamos sempre em teste.
A violência
Ações como as relatadas anteriormente também são demonstrações de violência contra a mulher.
Quando se fala em violência, é comum imaginarmos cenas relacionadas à violência física e sexual, como espancamento, estupro, etc.
Mas também existem agressões pouco reconhecidas, como a violência psicológica, moral, institucional e patrimonial. É importante ressaltar que o fato de uma violência ser menos reconhecida que outra, não significa que ela será menos importante ou terá menor impacto.
Nos casos relatados, exemplifiquei a violência psicológica e a moral. Estes tipos de violência se dão no abalo da auto-estima da mulher, por meio de palavras ofensivas, desqualificação, difamação, proibições de estudar, trabalhar, se expressar, manter uma vida social ativa com familiares e amig@s, etc.
A violência contra mulher é caso sério e pode acontecer em todos os locais: na escola, trabalho, dentro de casa, entre amigos/as, num simples circular na rua e, como vimos, em shows de rock.
Resistência
Mesmo com toda a repulsa às mulheres que formam bandas de rock - desde a falta de apoio da família e amig@s para elas aprenderem um instrumento até a violência moral e psicológica que vão sofrer ao pisar num palco – sempre houve bandas de rock com mulheres.
O que isso significa? Será que, na verdade, o rock sempre foi um espaço também feminino? Não. Penso que todo reconhecimento que uma banda com integrante mulher conseguiu foi a custo de sua própria disposição em provar que a banda poderia fazer um som legal e ser ouvida.
E aqui eu vejo duas estratégias diferentes que as mulheres acharam para se inserir no rock:
1) Elas fazem parte de bandas mistas. Nesse sentindo, a banda busca passar a mensagem que a presença de uma mulher na banda não muda seu desempenho, sua capacidade de compor boas músicas e fazer bons shows. Naturaliza-se a presença da mulher, constituindo “mais uma banda comum”.
Nesta, todos os integrantes sobem juntamente ao palco e quase todas as críticas direcionadas à mulher, também serão recebidas pelos homens da banda – o que gera uma cautela maior do público antes de falar merda.
O problema das bandas mistas é que esse maior “respeito” pela banda, parece-me, ocorre mais para com os integrantes homens da banda - pela legitimidade que eles deram àquela mulher ao “aceitá-la” na banda – do que para a própria mulher. De uma forma ou de outra, acredito que bandas mistas sempre contribuíram para tornar a mulher mais presente no espaço do rock e metal.
2 ) Elas montam “bandas de meninas”. Para isso é necessária muita astúcia, pois mesmo que não intencionalmente, a mensagem acaba sendo: “Vocês acham que a gente não toca nada e deveria estar rebolando para vocês, mas aí: eu não dou a mínima, tenho o direito de tocar as minhas músicas e vocês vão ouvir.” Independente do discurso da banda de meninas – se são feministas, ou não – elas constituem bandas ofensivas a boa parte do público masculino do rock.
Poucas chegam a ter o reconhecimento musical que as bandas masculinas e mistas têm. Muitas pessoas costumam dizer que bandas de meninas “tocam mal”. E aqui eu imagino toda a violência psicológica que as mulheres sofrem quando resolvem tocar um instrumento até toda a pressão de terem que provar aquilo que o público nega-se a aceitar quando sobem no palco para depois dizerem que mulheres “tocam mal”??!!!
Muitas pessoas “tocam mal” quando estão aprendendo. A diferença é quando um homem “toca mal” é porque está aprendendo, ou estava nervoso no dia, já a mulher “toca mal” porque é mulher.
Esse é um dos estigmas das bandas de meninas. Seu problema é que independente do som que toquem, das letras que escrevam, da atitude no palco, da idade das integrantes, são sempre “apenas uma banda de menina”*. Porém, elas se tornam mais transgressoras no sentido de que sempre estão lá para lembrar que o rock deve ser um espaço de todos os gêneros, quer queira, quer não. Mesmo com todo esse estigma, elas também inspiraram muitas meninas (e até meninos) a tocarem e, também, a assumir posições que desejam, mesmo que não lhe sejam oferecidas.
Podemos dizer que no Século XXI algumas coisas mudaram. Entretanto, temos que ter consciência que esse espaço ainda é predominantemente masculino e, muitas vezes, violento contra as mulheres.
Eu me pergunto para onde o rock quer caminhar com sua plaquinha de “subversão ao sistema” se no seu interior é conservador quanto as posições das mulheres? Que subversão é essa, então? Nenhuma, em minha opinião.
*Engraçado, que não existe “banda de menino”, pois banda de homem é quase um pleonasmo. Nossa própria linguagem exclui.