esse é mais um post oriundo da conexão true lies, foi uma entrevista que a carla fez com a silente. pra quem não conhece, silente é um hardcore crustado as fuck como bien le gusta y más, tocam nele tate (baixo) e eu (bateria) y alex (vocal) e caio (guitarra). a banda anda meio sumida dos palcos mas existe uma produção e a vontade de gravarmos até o meio do ano. espero que role.
(silente)
A arte do ep ficou bacana, algumas vezes me pareceu exagerado, mas no fim ficou denso. Alguns textos/comentários no ep ficaram bem diferentes do que vemos por aí (por exemplo a filmografia/biografia do cineasta Afonso Brazza) e outros pareciam realmente ansiosos para se tornarem frases. Porque essa preocupação além das letras?
Hum... não entendi muito bem esse lance de "ansiosos pra se tornarem frases", tudo são frases mesmo, né? Acho que ficou legal ser poluidão. Ficou denso e tenso também. Esse encarte levou muito tempo pra ser finalizado, foi lindo quando buscamos na gráfica, emocionante. Acho que hardcore não tem que ser só letras. Tem um monte de coisa que não sai do plano das intenções. Não que isso seja necessariamente ruim, mas enquanto fazíamos o disquinho estávamos numa onda de mergulhar totalmente nas coisas, não só ficar molhando os pezinhos na água pra testar a temperatura... Sobre o Brazza, o cara é um ídolo e acho que temos que lembrar dele, falar dele, assistir os filmes clássicos... Essas vinhetas são mágicas e coloca-las sem falar nada do mestre do faça-você-mesma seria muita filha-da-putagem.
"O que afasta você de sua vida é achar que sua vida é essa merda que te oferecem como se fosse um grande favor e você aceita sem reclamar" (trecho de um dos textos). Fora a passividade que algumas pessoas encaram suas próprias vidas e ter que sacrificar tanto tempo em trabalhos ruins, como vocês acham se possível de algum modo tomar o que é nosso que eles querem transformar em lucro? Acho que temos tentado retomar o que é nosso, ou pelo menos estamos tentando resistir minimamente à espoliação. É muita coisa funcionando pra destruir, entorpecer, seduzir a gente, de ter que acordar pra ir trabalhar até mesmo nos sentirmos escravizadxs pelas coisas que acreditávamos que iam nos libertar... O sistema quer se enfiar em todos os nossos buracos sem lubrificante, sem pedir licença, e mesmo se pedisse isso ia continuar sendo "estuprativo". Sei lá. Acho que andamos numa onda meio negativa, mas o pessimismo também pode mobilizar, não é só imobilidade, tédio e assistir tv. o silente é uma brecha, o corpuscrisis é uma brecha, a gente se encontra, se diverte, faz coisas que parecem tão verdadeiras quando estamos juntxs... Acho que a pequena resistência do cotidiano, as pequenas sabotagens ao mercado de trabalho, dormir bastante, ocupar o que te resta de tempo de forma que te deixe mais contente, fazer uma horta na varanda, descomprar, intervir em paredes, muros, cartazes, eu sei lá! O que vocês acham que é possível fazer pra retomar o que é nosso?
Os desenhos do Nathan são fora do comum, vagos subjetivos. Como rolou o contato pra ele fazer a capa do ep? Vocês ficaram satifeit@s com o resultado final? Ficamos demais! Foi assim: vimos uns desenhos dele num site, trocamos imeios, ele topou prontamente. Ficou bonito demais. Queríamos uma coisa que fosse inacabada e meio caótica, e os desenhos dele se encaixaram como uma luva. Inclusive tem outros desenhos que ele mandou, meio que esboços, e a gente incluiu na arte.
O número de meninas ativas dentro do punk/hardcore é muito pequeno, salvando
as exceções. Porque vocês acham que isso acontece, como "reverter" isso? Eita. Pergunta difícil porém recorrente. Primeiro acho que escutar som extremo não é uma coisa fácil e comum, tem que ter um histórico de podreiras pra poder ouvir um napalm death, acho. Segundo, penso que tem uma coisa de gênero aí (ou melhor, de educação para um papel especifico de gênero): o que é som de menina ouvir x o que é som de menino ouvir, sabe? Acaba que poucas meninas escutam som extremo, mesmo dentro do hardcore... E tem uma coisa de menina não toca tal e tal instrumento, também. É um pouco complicado quebrar essa barreira e a barreira que acaba se juntando com essa, a do público-privado. Então tem várias coisas que geram uma atividade pequena de meninas na cena; como reverter isso? Sei lá. Acho que não tem uma fórmula mágica pra isso. Não tem políticas públicas de inclusão de meninas no hardcore, sabe? hehehe. Não acho que projetos voltados para o público feminino revertam esse processo. Por um tempo fizemos xous só com bandas com garotas, e isso não faz a mínima diferença, sou cética com respeito a esse tipo de coisa. E tendo a achar ruim quando pessoas gostam dessa ou daquela banda porque é composta por meninas. Cheira a paternalismo, sabe? "Olha que bonito as menininhas brincando de fazer banda". Não gosto, me sinto mal com isso, na verdade.
Depois do ep, quais são os novos projetos e planos de gravações? Nosso processo de produção tem um tempo muito próprio, mas estamos sonhando em gravar músicas novas pra uns lançamentos mágicos. Por enquanto estamos conhecendo as músicas novas, nos acostumando a elas, nos reacostumando a tocar depois de uma longa hibernação...
Alice e Tate como ex-zineiras que são, o que acham que falta nos zines que possa tirar @s jovens de seus quartos seguros e roupas confortáveis? Eu espero que esse ex-zineiras vire em algum momento ainda-zineiras. Na verdade, apesar do carnissa (zine que eu e a Tate corríamos atrás de fazer) estar meio-morto, eu continuo com um e-zine chamado dfhardcore que é voltado para cena daqui do df e do entorno, então sou um pouco zineira (apesar de achar e-zines uma porcaria hehehe). Fazer zine é uma das coisas mais fodas de estar imersa no underground, na verdade, sinto falta do carnissa porque ele era exatamente o que achamos que falta nos zines por ai: política. O carnissa nunca falou de música, ele era 100% textos políticos com um enfoque feminista forte. Não quero com isso dizer que zines de música são uma merda, mesmo porque eu tenho um zine de música e essa crítica funciona pra ele, inclusive, mas parece que o que você pode criticar nos zines é o que você pode criticar na própria cena. Parece que estamos mais preocupadxs com som do que com a política, e na minha cabeça essas coisas deviam estar de mãos dadas...E é legal usar roupas confortáveis, roupa que incomoda é palha.
O corpuscrisis rolou esse mês, como foi o resultado final do projeto? E qual a idéia do evento? O corpuscrisis não tem resultado final, porque ele é um processo. a idéia que ta rolando agora é de sermos um grupo fluido que se encontra ocasionalmente e que tenta quebrar isso de só produzirmos pro encontro. Enfim. O encontro rolou fim de semana passado, foi trabalhoso pra caramba mais muito gostoso, no fim das contas. Conseguimos um espaço lindo, super confortável e bonito e passamos os três dias lá com uma série de questões nos corpos (não só nas cabeças), no meio de gente amiga e querida, disposta a trocar idéia...
A idéia do evento é passar o feriado conversando sobre as crises dos corpos, do gênero e das sexualidades. E assuntos conexos (ou aleatórios!). As atividades são propostas livremente por qualquer pessoa de boa (ou má) vontade e é isso, esse ano a barreira entre público e "palestrantes" (se é que podemos chamar assim) ficou mais líquida, o que é muito bonito, no final das contas. Dêem uma olhada em http://corpuscrisis.sarava.org
Valeu pela entrevista, boa sorte pra vocês, o espaço é aberto. A gente também agradece, muito obrigada pela força que tão dando pra gente, pelo retorno sobre as coisas que issemos/fizemos/escrevemos (isso é muito importante!). Vocês serão muito bem-vindas nessa Brasília eterna. Continuem espalhando a doença, o barulho e o incômodo! As cidades vão ruir, sob nossos sonhos ou por nossas frustrações!
Contatos- alixe@riseup.net/http://myspace.com/nohaybanda/ http://corpuscrisis.sarava.org CxP 317 cep:70359-970 Brasília/DF